sexta-feira, 11 de abril de 2008

Cada um na sua e eu na de todo mundo (lá ele)...

Tava dia desses, numa mesa de bar, quando começa a velha conversa de "ditadura feminina", "porque esse mundo é machista e patriarcal", blá blá blá... conversa incoveniente e deslocada, porque um bar é lugar de gente séria e de discussões decentes, porra. Enfim, a tal da conversa rendeu chegou num clímax tal, onde homens e as poucas mulheres protagonizavam o remake de Guerra dos Sexos, cada um defendendo seu ponto de vista - que não era necessariamente favorável ao grupo do gênero o qual pertencia, muito pelo contrário - no modo papagaio de pirata* on, que eu achei que ia rolar pau viola.

Foi então que um homem, que não tava no meio da Guerra, tava meio de lado, proferiu o seguinte discurso: "Você mulheres, ficam reclamando de ditadura do corpo, que tem ser magra, mas porra, foda mesmo é não poder escolher quem você come, caralho!" Obviamente rolou um silêncio absurdo na mesa e todo mundo com aquela cara de "Hein?!" e eu com minha cara de "Êba!".

Ele não esperou muito, e começou a levantar uma discussão que eu jamais imaginei e que me fez dar graças a deus por ser mulher o resto dos dias da minha vida pífia, que automaticamente se tornou menos pífia, logico, já que sou uma mulher e isso me dá o direito de escolher pra quem eu vou dar - ou quem eu vou não só dar, mas comer também, só que isso já é outra história.

A argumentação se baseava toda no seguinte fato: um homem, dentro de um quarto com uma mulher, tem que comê-la; seja ela espetacular, feia, magra, gorda, nova, velha, pelancuda ou plastificada e, mais, se ela por acaso não quiser, tem que convencer e comer. Não vale dor de cabeça, broxada, nem nenhuma desculpa anti-sexo, por mais criativa que seja. Tem que comer e pronto.

Os outros rat... ops.... homens da mesa, depois de ficarem atônitos, ensaiaram um coro de "porra nenhuma", "que viagem é essa, velho?", "só se for você!" que não intimidou o verdadeiro homem da mesa. E ele perseverou. E é a mais pura verdade.

As mulheres reclamam que tem de ser sempre magras, durinhas, escovadas e perfumadas - o que não deixa de ser verdade - mas, pelo menos podem escolher pra quem vai dar. Tem homem pra todo tipo de mulher: os feios, os lindos, os ricos, os narigudos, os tatuados, os religiosos (sim, senhora, não venha não, que em paróquia de padre bonito a igreja é sempre mais cheia...) e por aí vai. Tenho uma amiga mesmo que a-do-ra um feioso. Ela até deu sorte dessa vez, mas tenha dó, vai-gostar-de-homem-feio-assim -bem-longe-lá-de-casa!

Mas o homem não. Para o homem, não tem essa de adjetivar. É mulher e pronto. Se rolar uma conversa de que fulano saiu com fulaninha e não comeu, é um tal de "ihhh...essa fanta é uva" pra todo lado. Tenho muitos amigos e todos, sem exceção, confirmaram isso - não sem uma certa pressão - além de me contarem histórias cabeludas (literalmente) de experiências sexo-aterrorizantes, só porque tinham que comer. E comeram. E foram sacaneados, obviamente. Porque homem é escroto pra porra, nesse sentido. As mulheres tentam de tudo pra não deixar uma amiga pegar um seboso, mas se ela quiser mesmo (sei lá, tem gosto pra tudo), na hora de contar pras outras que não foram testemunhas oculares, ainda rola uma amenizada, tipo "ah, ele não era exatamente feio, era charmoso" (homens, tenham medo: se vocês não tiverem certeza que existe uma semelhança comprovada entre vocês e Richard Gere, Bruce Willis ou Nicolas Cage, "charmoso" é sinônimo de feio). Mas os homens, ah, os homens não. Eles dão força, fazem bolão pra ver se o outro vai pegar a banguela. E outro pega e ainda conta. Ui. Deus me livre.

O fato é que fui obrigada a concordar que isso é muito pior do que ser obrigada a estar magra ad infinitum. Ainda que pra ficar magra você também tenha que comer umas coisas horríveis.

Mas nesse caso, sai tudo no cocô mesmo.


*modo de discursar sobre um assunto, reproduzindo verbalmente alguma coisa que você já ouviu de alguém, não sabe onde e muito menos, se concorda. Mas você diz.

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