terça-feira, 22 de abril de 2008

Será que é tudo a mesma porra?!

Uma discussão interminável sobre o quadro de agravantes de uma traição. Uns diziam que traição só de beijo dá direito a uma pena leve, enquanto a traição de foda é digna de pena de morte. Outros, inflamados, diziam que do beijo pra xoxota não faz diferença; que a conduta delitiva está nos fatos e que isso, por si, já configura toda a merda feita. Eu ouvia e calava. Lembrava dos meus chifres; dos que tomei e dos que botei. Olhava pro meu companheiro de cama-mesa-banho e ficava pensando sobre o que seria pior pra ele: saber que eu beijei outro ou saber que não só beijei como também fudi com outro. Será que o beijo tem mesmo essa inocência que atenua as culpas e gravidades e dá direito ao perdão?! E a foda?! Ela é mesmo tão malévola assim? Dá tudo no mesmo ou realmente existe diferença?!

Em teoria, eu só consigo achar que, se é pra se ferrar, pelo menos que o serviço seja completo. Traição "apenas de beijo" é uma coisa tão puta santa...dá nos nervos. O xis da questão, em geral é a repercussão da trepada. Quando é ruim, a gente arruma logo uma culpa católica do tipo: "Ah, meu deus, porque eu fiz isso com ele, ele não merecia, nem foi bom....sacaneei o meu amor por nada". Pronto, segue-se o calvário de penitências, chicotes, correntes, grilhões e beijinhos com lingerires cheios de culpa no sujeito corno em questão. Por outro lado, se a foda é revigorante, esplendorosa do tipo que te deixa apertando as pernas no ônibus com a simples memória, aí a culpa é uma coisa meio Minority Report- aquele filme do Tom Cruise em que a pessoa vai presa antes de cometer o crime- porque o/a adúltero(a) em questão mal acabou de gozar e já está na culpa pela próxima safadeza que vai acontecer, porque não tem essa de ser maravilhoso e acontecer uma vez só. Daí que é um estilo de culpa mais perigoso, porque leva a uma seara de comparações perversas entre o ser corno e o(a) bola da vez.

Quando eu pensei que a discussão sobre o motivo que leva as pessoas a trair já estava superada- dado que o tema em pauta era os agravantes e penalidades da traição já consumada, um imbecil me lança essa de "mas porque será que as pessoas traem?" fazendo um ar de interessante, procurando teorias mal estudadas de sociologia pra responder a própria pergunta. Na verdade, estava tentando fazer esse "ar", porque esse adjetivo não é possível para gente babaca.

Eu que estava calada até então, só ruminando as memórias, elevei a voz e disse:
"As pessoas traem porque existe 1 zilhão de pessoas interessantes que endurecem o seu pau, que fazem a minha piriquita bater palmas e que são diferentes daquela pessoa que a gente namora, é casado ou convive. A gente trai porque gosta de novidade e é foda que a gente não consegue admitir que, ótimo, seria todo mundo tivesse a liberdade de escolher experimentar outras pessoas ou não e que isso não fosse sinônimo de canalhice e falta de amor. A gente trai porque não consegue dizer ao homem/mulher que ama, que ele/ela não nos basta; porque há sempre algo que falta e o que eu vejo de falta no outro, ele também vê em mim".

Eu traio porque não consigo sequer dizer ao meu amado que gostaria de ter uma relação assim livre de amarras, porque minha própria idéia me constrange e eu realmente não sei se seguraria a onda. Bom, isso eu não falei, mas pensei. O tempo que eu levei pensando isso, serviu de pausa dramática para o momento em que eu levantei, virei o copo de cerveja e disse: Pronto, falei!

Aí eu me piquei porque tava foda não pensar em traição.

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